24 setembro 2005

HISTÓRIA DE UM VIAJANTE (vale a pena ler tudo)

Acha seu dia às vezes difícil?Então leia este fato verídico, de Luís Fernando Veríssimo... a situação é complicada mas muito engraçada...

Aeroporto Santos Dumont, 15:30.Senti um pequeno mal estar causado por uma cólica intestinal, mas nadaque uma urinada ou uma barrigada não aliviasse. Mas, atrasado para chegar aoônibus que me levaria para o Galeão, de onde partiria o vôo para Miami,resolvi segurar as pontas.Afinal de contas são só uns 15 minutos de busão. "Chegando lá, tenho tempode sobra para dar aquela mijadinha esperta, tranqüilo, o avião só sairíaàs 16:30".Entrando no ônibus, sem sanitários. Senti a primeira contração e tomeiconsciência de que minha gravidez fecal chegara ao nono mês e que fariaum parto de cócoras assim que entrasse no banheiro do aeroporto.Virei para o meu amigo que me acompanhava e, sutil falei:"Cara, mal posso esperar para chegar na merda do aeroporto porque precisolargar um barro.""Nesse momento, senti um urubu beliscando minha cueca, mas botei a forçade vontade para trabalhar e segurei a onda."O ônibus nem tinha começado a andar quando, para meu desespero, uma vozdisse pelo alto falante: "Senhoras e senhores, nossa viagem entre os doisaeroportos levará em torno de 1hora, devido a obras na pista."Aí o urubu ficou maluco querendo sair a qualquer custo. Fiz um esforçohercúleo para segurar o trem merda que estava para chegar na estação anusa qualquer momento.Suava em bicas. Meu amigo percebeu e, como bom amigo que era, aproveitoupara tirar um sarro.O alívio provisório veio em forma de bolhas estomacais, indicando que pelo menos por enquanto as coisas tinham se acomodado.Tentava me distrair vendo TV, mas só conseguia pensar em um banheiro, nãocom uma privada, mas com um vaso sanitário tão branco e tão limpo quealguém poderia botar seu almoço nele. E o papel higiênico então: branco e macio,com textura e perfume e, ops, senti um volume almofadado entre meu traseiroe o assento do ônibus e percebi, consternado, que havia cagado. Um cocôsólido e comprido daqueles que dão orgulho de pai ao seu autor. Daquelesque dá vontade de ligar pros amigos e parentes e convidá-los a apreciar naprivada.Tão perfeita obra, dava pra expor em uma bienal. Mas sem dúvida, a situaçãotava tensa. Olhei para o meu amigo, procurando um pouco depiedade, econfessei sério: "Cara, caguei!"Quando meu amigo parou de rir, uns cinco minutos depois,aconselhou-me a relaxar, pois agora estava tudo sob controle."Que se dane, me limpo no aeroporto", pensei. "Pior que isso não fico".Mal o ônibus entrou em movimento, a cólica recomeçou forte. Arregalei osolhos, segurei-me na cadeira mas não pude evitar, e sem muita cerimôniaou anunciação, veio a segunda leva de merda. Desta vez, como uma pasta morna.Foi merda para tudo que é lado, borrando, esquentando emelando a bunda, cueca, barra da camisa, pernas, panturrilha, calças, meiase pés.E mais uma cólica anunciando mais merda, agora líqüida, das que queimamo fiofó do freguês ao sair rumo a liberdade.E depois um peido tipo bufa, que eu nem tentei segurar.Afinal de contas, o que era um peidinho para quem já estavatodo cagado...Já o peido seguinte, foi do tipo que pesa.E me caguei pela quarta vez.Lembrei de um amigo que certa vez estava com tantacaganeira que resolveu botar modess na cueca, mas colocou as linhas adesivas viradas para cimae quando foi tirá-lo levou metade dos pêlos do rabo junto.Mas era tarde demais para tal artifício absorvente. Tinha menstruado tantamerda que nem uma bomba de cisterna poderia me ajudar a limpar a sujeirada.Finalmente cheguei ao aeroporto e saindo apressado compassos curtinhos, supliquei ao meu amigo que apanhasse minha mala nobagageiro do ônibus e a levasse ao sanitário do aeroporto para que eupudesse trocar de roupas.Corri ao banheiro e entrando de boxe em boxe, constatei falta de papelhigiênico em todos os cinco. Olhei para cima e blasfemei: "Agora chega,né?"Entrei no último, sem papel mesmo, e tirei a roupa toda para analisar minhasituação (que concluí como sendo o fundo do poço) e esperar pela minhasalvação, com roupas limpinhas e cheirosinhas e com ela uma lufada dedignidade no meu dia.Meu amigo entrou no banheiro com pressa, tinha feito o"check-in" e ia correndo tentar segurar o vôo. Jogou por cima do boxe ocartão de embarque e uma maleta de mão e saiu antes de qualquer protestode minha parte. "Ele tinha despachado a mala com roupas". Na mala de mão sótinha um pulôver de gola "V".A temperatura em Miami era de aproximadamente 35 graus.Desesperado comecei a analisar quais de minhas roupasseriam, de algum modo, aproveitáveis.Minha cueca, joguei no lixo. A camisa era história. As calças estavamdeploráveis e assim como minhas meias, mudaram de cor tingidas pela merda.Meus sapatos estavam nota 3, numa escala de 1a 10. Teria que improvisar.A invenção é mãe da necessidade, então transformei uma simplesprivada em uma magnífica máquina de lavar. Virei a calça do lado avesso, segurei-a pelabarra, e mergulhei a parte atingida na água.Comecei a dar descarga até que o grosso da merda sedesprendeu. Estava pronto para embarcar. Saí do banheiro e atravessei oaeroporto em direção ao portão de embarque trajando sapatos sem meias,a calças do lado avesso e molhadas da cintura ao joelho (não exatamente limpas) e o pulôver gola "V", sem camisa.Mas caminhava com a dignidade de um lorde.Embarquei no avião, onde todos os passageiros estavamesperando o "RAPAZ QUE ESTAVA NO BANHEIRO" eatravessei todo o corredor até o meu assento, ao lado do meu amigo quesorria.A aeromoça aproximou-se e perguntou se precisava de algo. Eu cheguei apensar em pedir 120 toalhinhas perfumadas para disfarçar o cheiro de fossatransbordante e uma gilete para cortar os pulsos, mas decidi não pedir: "Nada, obrigado."Eu só queria esquecer este dia de merda. Um dia de merda...Luis Fernando Veríssimo (verídico)

Um comentário:

ELTON MADRUGA disse...

PUTA............MUITO BOM................KKKKK