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Histórinha do estudante gaúcho Luciano, 24 anos . "Eu fui para Londres como estudante, mas minhas intenções eram de trabalhar no exterior, passar um tempo morando sozinho. Durante os 11 meses que passei lá, não assisti mais que cinco dias de aula de inglês".
Luciano parece ser um dos muitos jovens brasileiros que preferem aprender as coisas vivendo, na raça, e não deglutindo as coisas prontas que nos apresentam em escolas. Em seus 11 meses em Londres, por exemplo, preferiu a viagem antropológica que as ruas proporcionam ao rigor de um curso de línguas.
"Sempre fui um nômade por natureza, mesmo no Brasil eu mudo de casa o tempo todo, então em Londres não poderia ser diferente. Me mudei seis vezes. No início, morei na casa de alguns brasileiros amigos da irmã de uma amiga minha. Fiquei pouco tempo lá. Logo fui morar com outros brasileiros num apartamento alugado. Não demorou dois meses e me cansei de falar português. Procurei no jornal por quartos para alugar e fui morar com um indiano e um australiano. A casa era muito suja, fiquei alguns meses morando com eles e depois fui morar com a minha namorada polonesa. Dividimos um flat com um turco e um casal gótico da bulgária (gente finíssima, vegetarianos, maníacos por limpeza, só usavam roupas pretas e escutavam um punk rock pesadíssimo). Eu adorava morar lá, mas minha namorada preferia ter vizinhos mais normais... Nos mudamos mais uma vez para uma casa com um casal de lésbicas, mais um casal de homossexuais, e dois outros brasileiros (héteros). Como não poderia deixar de ser, era muito divertido", contou.
Para se sustentar entre 2001 e 2002, quando morou na Europa, trabalhou em diversas áreas. Foi caixa de lanchonete, garçom de festas, barman de pubs e hotéis, distribuiu panfletos em parques, serviu em cafés... "O mais interessante é que todos esses empregos ocorreram ao mesmo tempo. Eu tinha três empregos fixos: barman num pub, o café e a lanchonete. Cheguei a trabalhar 70 horas por semana", disse. Haja força!
"Voltei ao Brasil com a intenção de retomar os meus estudos em administração. Faltavam 2 anos para terminar a faculdade. Enquanto eu estava em Londres, recebi uma proposta de trabalho no Brasil. Isso motivou a minha volta", explicou. Para a viagem, Luciano teve a ajuda do pais para comprar as passagens de ida e volta. "Todo o resto foi por minha conta. Cheguei em Londres somente com US$ 500."
Luciano disse que a viagem o deixou mais responsável. "Hoje eu não aceito receber nada de mão beijada. Dificilmente peço ajuda para os meus pais. Procuro me virar sozinho. Quero ter o prazer de todas as minhas conquistas, por mais simples que elas sejam. Pode ser um emprego melhor ou simplesmente se orgulhar por fazer a minha própria comida e lavar as minhas roupas", comentou.
Ele lembra que a única situação difícil foi quando estava saindo da casa dos amigos brasileiros. "Passei duas semanas sem ter uma residência fixa, morei de favor em vários lugares. Acho que a sensação de não ter onde morar foi pior do que não ter trabalho, mas também não era o fim do mundo."
E o cara avisa: "é preciso ter muita responsabilidade para sair de casa, principalmente no exterior". "É incrível como somos influenciados pelas pessoas que estão ao nosso redor. Mesmo que tenhamos uma personalidade muito forte, muitas vezes essas influências são imperceptíveis... mas são elas que acabam nos mantendo na linha. Quando você sai de casa, essas influências acabam e você estará só, será totalmente responsável pelos seus atos e pensamentos... É difícil manter na linha, conheci muita gente que se perdeu."
Algum arrependimento? "Eu deveria ter dado um jeito de estudar inglês", lamentou.
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